Café Literário – Livro O Espadachim de Carvão vai além da fantasia e da aventura

junho 13, 2013



Bem vindo ao Café Literário, a sua dose semanal de literatura! Nesta temporada, a seção está sob os cuidados do escritor em formação, apaixonado por literatura e autor do blog Escriba Encapuzado, Tiago K. Pereira*, novo colunista do blog @cafecnoticias. Semanalmente, você irá conferir por aqui novidades do mundo literário, entrevistas, resenhas e, até mesmo, sorteio de livros. Acompanhe:

Saudações literárias. O Café Literário desta semana traz a resenha de uma obra de fantasia – gênero pouco tradicional no Brasil, mas que tem conquistado leitores e revelado talentos nos últimos anos. Surpreenda-se com O Espadachim de Carvão, de Affonso Solano.

Um jovem escritor nerd

Affonso Solano é um dos novos representantes da atual geração de escritores nacionais de fantasia que inclui autores badalados como André Vianco, Eduardo Spohr, Raphael Draccon e Leonel Caldela. O carioca de 32 anos é ilustrador e storyboarder, já prestou serviços para as editoras Image Comics e Warner/Chappell e, atualmente, trabalha para as TVs Globo e Record e para várias agências de publicidade.

Colaborador do TechTudo – portal de tecnologia hospedado na Globo.com, Solano é também um dos criadores do Matando Robôs Gigantes, podcast de cultura pop incorporado ao grupo Jovem Nerd. Com uma presença ativa em redes sociais e participações ocasionais em diversos podcasts, ele acabou atraindo a atenção de Draccon, que também é editor do selo Fantasy – Casa da Palavra, da Editora Leya.
O escritor Affonso Solano, autor do livro “O Espadachim de Carvão”.
Foto: Divulgação.

Conhecido por desenhar monstros, super-heróis, e alienígenas, Solano desenvolveu o cenário deste seu livro de estreia por pelo menos dez anos e chegou a disponibilizá-lo por um tempo na forma de quadrinhos interativos no portal de entretenimento Omelete. Agora, o autor tem a oportunidade de compartilhar suas criações em um bom romance.

Resenha: O Espadachim de Carvão

Kurgala é um mundo singular habitado por seres exóticos e abandonado por Quatro Deuses. Nele vive Adapak, um ingênuo e habilidoso espadachim de olhos inteiramente brancos e pele negra como carvão. Filho de uma divindade e criado em total isolamento, ele se vê caçado por assassinos misteriosos e é forçado a encarar, pela primeira vez, as maravilhas, os horrores e os mistérios da vida além da proteção de seu lar sagrado.

Um aficionado por literatura fantástica pode torcer o lábio diante dessa sinopse, mas não se deixe enganar: O Espadachim de Carvão é uma obra que se destaca pela originalidade e cujo autor venceu um dos maiores desafios dos autores do gênero: fugir do lugar-comum. Kurgala não é um cenário de elfos, anões, hobbits e dragões, nem de intrigas palacianas ou massacres de famílias nobres rivais – ao menos não neste livro, o primeiro de uma longa série prometida.

O mundo de Adapak é repleto de seres de múltiplos membros, estruturas ósseas incomuns e olhares paralisadores e de deuses que parecem saídos das obras de terror de H.P. Lovecraft. Sim, há humanos ali, mas estes empalidecem diante da complexidade e riqueza cultural das demais raças com as quais topa o carismático e fascinante protagonista.

Ao invés de massacrar o leitor com informações detalhadas sobre seu cenário, Solano opta, acertadamente, por contar a história alternando o passado e o presente a cada capítulo. Deste modo, ocorre uma variação de ritmo, ora dinâmico ora compassado, em um equilíbrio adequado. Isso também permite que o leitor se familiarize aos poucos com tanta exoticidade.

A criatividade do autor é ímpar. No que diz respeito à ambientação, não há na literatura de fantasia nacional nada que se iguale a diversidade de Kurgala. Infelizmente aí reside também a principal falha da obra: tantas características incomuns e o emprego de uma linguagem própria geram confusão no leitor, e isso se deve em grande parte ao estilo da escrita.

Solano é econômico demais nas descrições, em especial ao tratar das diversas raças. Se por um lado isso beneficia o ritmo da leitura, por outro dificulta a visualização dos elementos que tornam esse mundo tão singular – por isso, não se sinta mal ao comparar os frutos de sua imaginação às ilustrações disponibilizadas pelo autor no site do livro, já que as duas podem não corresponder exatamente.                                                                       

O autor se redime das descrições sucintas com as personalidades marcantes e vozes distintas de seus personagens. Seus “monstros” também apresentam aspectos inteiramente humanos com os quais é possível se identificar, o que é uma grata surpresa. Também por intermédio de tais perspectivas são tratados assuntos polêmicos do nosso cotidiano, como a manipulação e a opressão pela fé, a prostituição e o preconceito. É uma pena, porém, que personagens e autor se confundam algumas vezes no texto.

A originalidade do cenário de O Espadachim de Carvão é inquestionável. Quanto à trama, esta chega a surpreender o leitor em diversos momentos, mas é de uma simplicidade tal que dificilmente se sustentaria por mais do que as 255 páginas do livro. A conclusão se desenrola num ritmo acelerado e superficial demais, e não esclarece muitos dos mistérios propostos pela narrativa. Contudo, talvez seja injusto esperar maior profundidade em um livro que é apenas o primeiro de uma série.

O texto apresenta certo grau de violência, o que reforça a imagem da brutalidade do mundo de Solano. Contudo, comparado com os cenários de obras como As Crônicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin ou O Inimigo do Mundo, do gaúcho Leonel Caldela, Kurgala é um verdadeiro paraíso.

Há que se parabenizar também a editora pela primorosa produção gráfica da obra, cuja capa conta com a bela arte de Rafael Damiani. O próprio autor colabora com algumas ilustrações no início de cada capítulo que colocam o leitor no clima – pena que nem todas ajudem a visualizar melhor a excentricidade deste mundo fantástico.

Ainda que a pudesse ter se enriquecido mais com a inclusão de um glossário e de ilustrações mais precisas, O Espadachim de Carvão é um bom livro, proporciona momentos de diversão e reflexão, e é mais que recomendado para os aficionados por fantasia e histórias de aventura.

Avaliação literária (Nota de 1 a 5):






*Perfil: Tiago K. Pereira é escritor de coração e servidor público por necessidade. Aficionado por letras, livros e curiosidades do mundo nerd, Tiago busca realizar seu sonho de se tornar um escritor profissional. Entre rascunhos de histórias e telas de programação, ele se aproxima do mundo da literatura escrevendo no Escriba Encapuzado e para a seção Café Literário do blog Café com Notícias.






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Jornalista

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2 comentários

  1. Não conheço este autor, muito menos o livro. Gosto de livro de fantasia, de realismo fantástico e curto ilustração....vou arriscar.

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    1. Junior,

      Não deixe de dizer depois o que achou do livro. ;)

      Recomendo outros dois livros do gênero: "A Estilha de Cristal" e "Dragões do Crepúsculo de Outono".

      Tiago K. Pereira – Escriba Encapuzado
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