Estreia de Amor à Vida mostra renovação de Walcyr Carrasco

maio 25, 2013


Uma mocinha nada convencional que se apaixona por um hippie e joga uma vida abastada para o alto em nome de um grande amor. Poucos capítulos depois, após ter a filha raptada pelo próprio irmão, ela se vê arrependida das escolhas que fez e se dá conta de que é preciso muito mais que amor para viver uma vida a dois: os sonhos precisam ser compartilhados.

Foi assim que Walcyr Carrasco estreou no horário nobre da Rede Globo com Amor à Vida, apresentando um texto muito mais ágil e atual, sem ser repetitivo, como já aconteceu nas suas últimas novelas da faixa das seis e da sete. Walcyr mostrou renovação e surpreendeu positivamente o público por ter resolvido o prólogo da protagonista em apenas um capítulo e ter injetado no público doses cavalares de emoção, sensibilidade e muito mais velocidade para resolver os conflitos que vão surgindo no decorrer da história.

Se fosse outro, teria durado mais de um mês naquela lenga-lenga. Walcyr foi tão sagaz que nem precisou usar recursos manjadados de “tempos depois”. A medida que as coisas iam acontecendo, o público pode perceber que os anos se passaram até chegar nos dias de hoje. Entre os telespectadores, não há como negar que o autor e o diretor Mauro Mendonça Filho não se incomodaram de beber da mesma fonte de Avenida Brasil, dando um ritmo alucinado à Amor à Vida, o que lembra muito as tramas desenvolvidas nas séries americanas – o que é sensacional!

O telespectador se sente aliviado. Em apenas uma semana, o público se viu apresentado a inúmeros conflitos que nem de longe lembra as novelas do time da "velha guarda de roteiristas" da Rede Globo que está há anos no horário nobre, fazendo o mais do mesmo sem se preocupar em se renovar, em arriscar um novo modo de contar suas histórias. Quanto à audiência, a novela de Walcyr Carrasco manteve a liderança no horário, apesar de ter herdado a forte rejeição por parte do público quanto à sua antecessora Salve Jorge.

Na estreia, Amor à Vida marcou uma média de 35 pontos com pico de 36. Na mesma faixa de horário que ficou no ar mais tempo do normal – das 21h11 às 22h40, a Record marcou 6,2 pontos; o SBT ficou com 5,6 e a Band registrou 1,9 pontos. Nesta primeira semana de novela, a impressão é que estamos diante de um novo sucesso das nove com potencial para surpreender ainda mais. Com toda certeza, esses números vão subir.

Por ora, o maior equívoco de Amor à Vida é a música tema de abertura – “Maravida”, cantada por Daniel, que não tem nada a ver com a história, nem com a temática urbana da novela. Mas nada impede que a música-título mude, até porque nas redes sociais a manifestação para que isso aconteça tem sido intensa. A animação criada por Ryan Woodward – que coloca dois dançarinos que viram pássaros sob o cenário de alguns dos cartões-postais de São Paulo ao fundo, chega a destonar da canção interpretada pelo cantor pela falta de sintonia. Isso não torna Daniel um mau cantor...só a música que não combina mesmo.

Mas, mudando de assunto, vamos falar dos acertos de Amor à Vida. O elenco bem afinado é o grande trunfo da novela. Não tem ninguém destonando ali. Até mesmo Susana Vieira – afastada das novelas durante um tempo, está sabendo fazer como ninguém uma mulher arrogante e extremamente apaixonada pelo filho, capaz de passar a mão na cabeça dele e não ver os seus defeitos. Na outra ponta da família da protagonista, está Antônio Fagundes, vivendo o médico dono do Hospital San Magno e que tem um carinho todo especial pela filha Paloma. Fazia tempo que Fagundes não tinha um bom papel em novelas.

Em um primeiro momento, Amor à Vida lembra muito as novelas de Gilberto Braga e Manoel Carlos. Há vários elementos desses autores, como a discussão sobre a família, a trama realista, o merchadising social, novamente Paola Oliveira vivendo uma protagonista no horário nobre, um mocinho bom caráter, uma mãe trabalhadora, um bom vilão masculino, um casal que é separado pelo destino, um irmão que sente inveja do outro e até mesmo um núcleo ambientado em um hospital. Só faltou um Dr. Morete e uma Helena...rs. Mas mesmo que tivesse isso (ou não), nada impede que Amor à Vida tenha referências, use e abuse da metalinguagem, uma vez que o folhetim tem brilho próprio e já chegou chegando.

Mesmo em um time estrelar, os destaques da semana atendem pelo nome de Tatá Werneck e Mateus Solano. Recém saída da MTV, Tatá mostrou ao público que não a conhecia ainda o seu grande potencial para o humor, interpretando a piriguete Valdirene que se acha a mais gostosa do bairro e sonha engravidar de um jogador de futebol. As cenas com Elizabeth Savalla – que faz a mãe dela, uma ex-chacrete que vende cachorro-quente na rua, são hilárias e promete ser o ponto de refresco cômico da novela.

Mateus Solano, despensa apresentações e merece todos os elogios. Creio que ele está fazendo o melhor papel da carreira dele na TV até o momento. Trata-se de um dos melhores vilões masculinos dos últimos tempos, um verdadeiro achado essa “bicha má” – como já foi apelidado nas redes sociais. Seja pelo tom ácido, seja pelas maldades movidas pela inveja de ver a irmã Paloma – a mocinha do folhetim, ser a preferida pelo pai, dono do Hospital San Magno, ou ainda pelos elogios carregados de sarcasmo e narcisismo, Félix já ganhou o público.

O antagonista foi muito bem delineado e é diferente de tudo que estamos acostumados a ver no horário, principalmente por ter uma questão pessoal mal resolvida: Félix é homossexual e ainda não saiu do armário. E, por ora, nem pretende sair: o administrador do Hospital é casado e usa a família que criou como uma fachada, uma máscara social que engana somente a si mesmo.

Como roteirista, Walcyr Carrasco está na sua melhor fase: a mais criativa – diga-se de passagem, tudo porque conseguiu amarrar bem as histórias de Amor à Vida e nem se incomodou de ter não ter ainda apresentado todos os personagens. E o autor está mais do que certo. É preciso dar tempo ao tempo. Uma trama realista pede isso. Tudo tem a hora certa de aparecer e nada aparece por acaso. Walcyr estreou com o pé direito e o telespectador já se envolveu: viu que está diante de um novo amor das nove. Missão dada é missão cumprida.




Fotos: TV Globo / Divulgação.





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Jornalista

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8 comentários

  1. Ei querido. Estou assistindo Amor à Vida e estou adorando. A novela é muito bem feita e estou encantada com a história da Paloma, do Bruno e da Paulinha. A sintonia deles é linda. Parabéns pela resenha! Beijos

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  2. Também não gostei da música de abertura de Amor à Vida. Até tomei um susto com o Daniel gritando daquele jeito...o Gonzaguinha revirou no túmulo depois dessa....kkkk. Tomara que a Globo mude esta música.

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  3. De todos que saíram da MTV no início do ano, a Tatá Werneck é a que fez a melhor estreia. Morro de rir com ela e Savalla juntas em cena. Mas o Félix do Mateus Solana é o melhor vilão de todos os tempos...colocou a novela inteira no bolso.

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  4. Wander, muito bom o seu artigo. Realmente, tem muita coisa na novela que lembra as novelas de Manoel Carlos e Gilberto Braga. Se tivesse um Dr. Morete no Hospital o público das redes sociais ia a loucura...kkkkkk

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  5. Apesar de não gostar muito da Paola Oliveira, tenho que admitir que a novela está boa e tem me prendido. Achei a abertura da novela estranha com a animação e com aquela gritaria do Daniel...ficou estranho para não falar outra coisa.

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  6. Ótima análise da novela. Não encontrei tempo para assisti-la, só um trechinho do capitulo inicial, mas parece que a novela será show de bola.

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  7. Vou resumir com uma frase que circulou nas redes sociais: "Uma semana com essa novela já valeu por Salve Jorge inteira".

    Tem uma cena com a Susana Vieira e Francoise Forton que lembrou MUITO Por Amor (e seus papeis - Branca e Eugênia), ainda mais quando elas falavam do Atilio (neste caso, o tal sócio do hospital). Essa novela tem tudo para dar certo, só falta trocar a música da abertura. rs

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  8. Que estreia, boa, Wander. Amor à Vida estreou com o pé direito e apresentando uma ótima direção, bons personagens e excelente trama. Entretenimento de qualidade. Abraços.

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